Palavras
complexas como versatilidade e polivalência definiam a singular carreira de Marília
Pêra, uma das maiores damas da dramaturgia brasileira. A atriz, que fez
história na televisão, no cinema e, sobretudo, no teatro, faleceu na manhã deste
sábado, dia 5 de dezembro, aos 72 anos, no Rio de Janeiro. Cantora e dançarina,
Marília também atuava como coreógrafa, produtora e diretora de peças e
espetáculos musicais. A facilidade em transitar pelos vários ramos da arte
permitiu que a atriz construísse personagens fortes e extremamente marcantes.
Íntima dos
palcos desde os quatro anos de idade, Marília Pêra participou das primeiras peças
de teatro ao lado dos pais (os atores Manuel Pêra e Dinorah Marzullo), que
integravam o elenco da famosa Companhia de Henriette Morineau, que chegou a
trazer para público carioca, no final da década de 50, as representações de “Medéia” de Eurípedes e o infantil “O Casaco Encantado” de Lúcia Benedetti.
Este último, responsável por marcar o debute de Marília Pêra na cena artística.
Em pouco mais de 15 anos, a atriz ainda participou de uma dezena de peças,
detre eles muitos musicais e teatros de revistas. Até que, enfim, chegou à
televisão, protagonizando de cara duas novelas pela Rede Globo no ano de 1965: “A Moreninha”, ao lado de Cláudio Marzo; e “Rosinha do Sobrado”, fazendo par romântico com Gracindo Júnior.
Anos mais
tarde, Marília Pêra integrou o elenco do estrondoso sucesso “Beto Rockfeller” (1968), novela
protagonizada por Luiz Gustavo e Débora Duarte. Neste mesmo período, a atriz também
iniciava a sua grandiosa carreira no cinema, participando da comédia de sátira
política “O Homem que Comprou o Mundo”
(1968), de um ainda calouro Eduardo Coutinho, diretor com quem ainda rodou, quatro
décadas mais tarde, um impactante embate dramatúrgico no documentário “Jogo de Cena” (2007).
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A atriz Marília Pêra (1943 - 2015) em "Jogo de Cena" (2007) de Eduardo Coutinho - Matizar [br] | VideoFilmes [br] |
Além dos
trabalhos com Coutinho, a filmografia de Marília Pêra inclui mais 25 grandes trabalhos,
dos quais ela participa de diversas maneiras: seja em pequenas participações, emprestando
uma parcela de seu talento para abrilhantar ainda mais filmes como “Anjos da Noite” (1987) de Wilson Barros,
“Central do Brasil” (1998) de Walter
Salles, e “Garrincha - Estrela Solitária”
(2003) de Milton Alencar; ou seja como uma coadjuvante de luxo, roubando a cena
em clássicos do cinema nacional como “Pixote:
A Lei do mais Fraco” (1981) de Hector Babenco, onde interpreta a prostituta
Sueli; e “Tieta do Agreste” (1996) de Carlos Diegues, onde dá vida à icônica
vilã Perpétua.
Como protagonista
Marília Pêra foi ainda maior! Entre os seus papéis, os mais lembrados pelo
público são o da garota de programa Ana, a chave do mistério no drama policial “Ana, a Libertina” (1975) de Alberto
Salvá; outra Ana, a Ana boêmia de “Bar
Esperança, o Último que Fecha” (1983) de Hugo Carvana (papel que lhe rendeu
o Kikito de Ouro de Melhor Atriz no Festival de Gramado do mesmo ano); e Ana
Lara, a Ana psicótica e cegamente apaixonada de “O Viajante” (1999) de Paulo César Saraceni (onde foi premiada com
o Troféu de Melhor Atriz no Grande Prêmio de Cinema Brasileiro na ocasião).
Destacamos ainda todo o virtuosismo de seu último trabalho para o cinema: o
papel duplo das irmãs gêmeas Magda e Magali no modesto “Polaróides Urbanas” (2008) do parceiro e amigo Miguel Falbella.
Teatro, música,
televisão e cinema... Invadindo a alma e a pele de personagens célebres como
Carmen Miranda, Coco Chanel, Dalva de Oliveira, Maria Callas e, até mesmo, a ex-primeira-dama
Sarah Kubitschek, as várias facetas de Marília Pêra abarrotaram de carisma palcos,
lares e telas de cinema pelo Brasil e pelo mundo. Completa! Assim era Marília...
Descanse em paz... (1943 - 2015)
Dez filmes com Marília
Pêra que indico (em ordem de predileção):
01 - Pixote: A Lei do mais Fraco (Pixote: A Lei do mais Fraco, Brasil, 1981) - de Hector Babenco
02 - Jogo de Cena (Jogo de Cena, Brasil, 2007) - de Eduardo
Coutinho
03 - O Homem que Comprou o Mundo (O Homem que Comprou o Mundo, Brasil, 1968) - de Eduardo Coutinho
04 - Bar Esperança, o Último que Fecha (Bar Esperança, o Último que Fecha, Brasil,
1983) - de Hugo Carvana
05 - Amélia (Amélia,
Brasil, 2001) - de Ana Carolina
06 - O Rei da Noite (O
Rei da Noite, Brasil, 1975) - de Hector Babenco
07 - Dias Melhores Virão (Dias Melhores Virão, Brasil, 1990) - de Carlos Diegues
08 - Jenipapo (Jenipapo,
Brasil | Estados Unidos, 1995) - de Monique Gardenberg
09 - Tieta do Agreste (Tieta do Agreste, Brasil | Reino Unido | França, 1996) - de Carlos
Diegues
10 - O Viajante (O Viajante, Brasil, 1999) - de Paulo
César Saraceni
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Marília Pêra com Jairo Mattos em "O Viajante" (1999) de Paulo César Saraceni - Shater Produções Artísticas [br] |
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