Quinta-feira,
31 de dezembro. É desesperador olhar para o relógio e perceber que 2015 está
quase acabando e que a nossa a prometida lista dos com Os Dez Melhores Filmes do Ano ainda não foi lançada por aqui. Mas
não precisamos mais nos preocupar: afinal, acabamos de “tirá-la do forno”!
Como a
seleção e a análise de cada um dos filmes demorou mais do que o previsto para ser
publicada, não nos alongaremos demais nos comentários, deixando que os mesmos
se desenvolvam apenas nos comentários sobra cada uma dessas incríveis obras.
Sempre contando com aquelas famosas “injustiças pontuais” que possamos ter
cometido, tentaremos não decepcionar ninguém!
E antes que
digam que este ou aquele filme são de um ano anterior a 2015, ou que tal
produção estreou em determinado Festival em tal data, lembramos que o critério
que sempre escolheremos para estabelecer os filmes que integrarão as listas
especiais de fim de ano obedecerão a seguinte regra: produções que estrearam em 2015 nas salas de cinema do Brasil através
do circuito comercial; ou aquelas lançadas diretamente em Home Video ou VOD.
Esclarecido
isso, não custa lembrar que, assim como a seleção dos melhores filmes brasileiros realizada no início do mês, essa
listagem também não é longa, mas os comentários a respeito de cada um dos eleitos
acabaram se estendendo um pouco mais do que o esperado. Então, sem mais
conversas, vamos à Lista com Os Dez
Melhores Filmes de 2015 (em ordem decrescente), mas com uma observação importante antes de começar:
“Mad Max: Estrada da Fúria” é
diversão pura! É BOM DEMAIS! É EXCELENTE! George Miller é um sujeito fabuloso!
Agora sim, a
nossa lista:
10º. LUGAR: “SAMBA”
(Samba,
França, 2014) - de Olivier Nakache e Eric Toledano
Data da Estreia: 9 de julho de 2015
Assim como a
lista que definiu “Os Dez Melhores Filmes Nacionais de 2015”, o nosso décimo lugar nesta seleção também propõe
contemplar e reverenciar um trabalho diferente; um filme que foi lembrado em
poucas (ou, possivelmente, em nenhuma) das listas dos melhores do ano
elaboradas pelos principais blogs e sites de entretenimento especializados em
Cinema. Destacamos “Samba”, quinto
longa-metragem dos cineastas franceses Olivier Nakache e Eric Toledano como um
dos melhores filmes de 2015. A comédia dramática é, ainda, a quarta colaboração
do ator Omar Sy com a dupla de diretores depois de “Nos Jours Heureux” (2006), “Tellement
Proches” (2009), e do mundialmente prestigiado “Intocáveis” (2011).
Sy interpreta
Samba Cissé, um imigrante senegalês que vive há dez anos na França e que, desde
então, vinha se mantendo de forma ilegal no país, garantindo o seu sustento às
custas de subempregos e trabalhos informais. Tentando regularizar a sua
situação, Samba terá a valiosa companhia de Alice (Charlotte Gainsbourg), uma
executiva experiente que vem sofrendo de estafa devido ao seu estressante
trabalho, mas que tenta reconstruir a sua vida profissional como voluntária da
ONG que cuida dos interesses daqueles que vivem na clandestinidade. Ambos lutam
para vencer as adversidades da vida: ele faz o possível para obter os
documentos necessários para conquistar um trabalho digno; já ela tenta
recuperar a saúde e a boa forma rapidamente. Cabe ao destino determinar se a
união dos dois virá através da busca de um bem comum.
“Samba” ainda conta com um talentoso time de
coadjuvantes (destaque para Izïa Higelin e Tahar Rahim) que engrandecem a
história, mas patina ao tratar do assunto da imigração com muito humor e
bastante otimismo. O que o torna um bom filme é, essencialmente, a atuação
despojada e convincente de Omar Sy, que vem trazendo para os filmes de Nakache
e Toledano o calibre, a força e a elegância que qualquer produção francesa (ou
francófona) exprime ao fazer sua carreira internacional. O longa é, ainda, uma
opção alternativa de entretenimento para os fãs de filmes semelhantes à ele:
tanto os mais densos e pretensiosos como os de outra dupla de cineastas, os
excelentes irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, no caso; quanto as batidas
comédias (dramáticas ou românticas) de moldes excessivamente artificiais que
vem sendo produzidas em Hollywood nos últimos anos, por exemplo.
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"Samba" (2014) de Olivier Nakache e Eric Toledano Quad Productions [fr] | Ten Films [fr] | Gaumont [fr] | TF1 Films Productions [fr] | Korokoro [fr] |
9º. LUGAR: “O CONTO DA PRINCESA
KAGUYA”
(Kaguyahime
no Monogatari, Japão, 2013) - de Isao Takahata
Data da Estreia: 16 de julho de 2015
Com seus 30
anos de fundação recém-completados, o Studio Ghibli continua presenteando os
fãs de cinema e, sobretudo, os de desenhos animados com obras
extraordinariamente sensíveis e de uma beleza visual ao mesmo tempo sutil e
impactante. Prova disso é que, há pouco mais de um mês, “As Memórias de Marnie” (2014) de Hiromasa Yonebayashi estreou em
algumas salas do país e já se tornou mais um sucesso absoluto da companhia.
Entretanto, foi o penúltimo de seus títulos (distribuído com certo atraso no
Brasil) que cativou plateias, emocionado e trazendo brilho, leveza e reflexão
para as telas. “O Conto da Princesa
Kaguya” traz Isao Takahata (um dos fundadores da Ghibli) em ótima forma, e digamos:
na sua plenitude como animador e como cineasta.
Sem os
abundantes recursos do cinema de animação atual, Takahata colocou a ponta de
seu lápis em um esboço de papel para rascunhar a adaptação do popular (e
milenar) conto japonês “O Cortador de
Bambu”. Dádiva celestial, Kaguya é uma misteriosa princesa que, ainda bebê,
é encontrada dentro do caule de um bambu brilhante por um simples camponês. A
garotinha é adotada pelo cortador e por sua esposa e cresce na aldeia levando
uma vida simples rodeada por amigos leais. Passado o tempo, ela se transforma
em uma bela jovem e é forçada a abandonar as “suas raízes” para começar a
receber uma educação de princesa na capital; sempre financiada por um
enigmático tesouro administrado pelo “pai”.
Kaguya é,
agora, uma nova representante da nobreza que passa a ser cobiçada pelos homens
mais importantes do Japão, incluindo até mesmo o Imperador. Nenhum deles
realmente a ama, e ela acaba desafiando todos os pretendentes a cumprirem
tarefas impossíveis a fim de evitar a união com uma pessoa que sequer conhece.
Por suas escolhas, a princesa acaba sendo punida e descobre que o seu triste
destino e o objetivo principal de sua visita ao nosso mundo foram,
simplesmente, o de conhecer a sordidez e a insignificância do espírito humano.
Sublime,
apaixonante e cheio de vida: o fato é que, em consonância com toda a sua arte,
a simplicidade dos traços e a beleza das cores transformaram o trabalho
tradicionalmente minimalista do mestre Isao Takahata em um dos melhores (e mais
significativos) filmes assistidos por aqui em 2015!
8º. LUGAR: “BEASTS OF NO NATION”
(Beasts of no Nation, Estados Unidos, 2015) - de Cary Joji Fukunaga
Data da Estreia: 16 de outubro de 2015 (lançamento global pela Netflix)
Com carreira sólida em alguns dos principais Festivais de Cinema do mundo, “Beasts of no Nation” chegou para inovar. Premiado em Veneza (onde já estreou em competição) e com exibições especiais em Toronto, o filme foi apresentado ao público através da estreia mundial promovida pela rede de entretenimento Netflix, que disponibilizou o produto em seu catálogo no mês outubro deste ano. O longa-metragem é a primeira obra de ficção com o selo de produção original da companhia.
Baseado no romance homônimo de Uzodinma Iweala (cidadão estadunidense de origem nigeriana) e dirigido com rara versatilidade por Cary Joji Fukunaga, “Beasts of no Nation” reflete, com um realismo absurdo, os dramas que qualquer criança pode viver estando em um país africano que enfrente as perversões de uma guerra civil. Todas essas crianças são aqui representadas por Agu (Abraham Attah), um garoto alegre que vive em um vilarejo militarmente controlado, mas que, de repente, tem a sua vida destroçada pelos conflitos que batem à porta de sua casa.
Depois de ser separado da mãe e dos irmãos mais novos; e depois de ter o pai, o avô e o irmão mais velho brutalmente executados por militantes rebeldes que tomaram toda a cidade, Agu foge para a mata e se depara com uma milícia aliada ao governo. Sem saída, ele acaba sendo aliciado pelo comandante da facção (formidavelmente interpretado por Idris Elba) e treinado para ser mais um jovem e vingativo soldado à serviço do horror.
Nos âmbitos social e político, “Beasts of no Nation” escancara uma realidade nua e crua, trazendo para o centro das discussões um tema que, por conveniência, costuma escapar às nossas vistas e que ainda precisa ser muito mais explorado e discutido, sobretudo no cinema que, desde a sua criação, sempre foi um importante veículo e um chamativo palanque para as discussões das maiores mazelas da humanidade.
Já no ramo do entretenimento, a Netflix vem mostrando que ainda pretende romper mais barreiras. Depois de ter sido indicada ao Oscar de melhor documentário com “A Praça Tahrir”, em 2014, e com “Virunga”, neste ano, as suas futuras produções podem começar a ganhar um destaque ainda maior e surpreender não só nos circuitos de premiações, como também dominar esse mercado extremamente competitivo nas quais estão inseridas.
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"Beasts of no Nation" (2015) de Cary Joji Fukunaga - Netflix [us] | Red Crown Productions [us] | Participant Media [us] Come What May Productions [us] | Mammoth Entertainment [us] | New Balloon [us] |
7º. LUGAR: “DIVERTIDA MENTE”
(Inside
Out, Estados Unidos, 2015) - de Pete Docter e Ronnie Del Carmen
Data da Estreia: 18 de junho de 2015
Depois do
hiato de um ano sem lançar uma produção inédita (muito por conta do adiamento
da estreia de “O Bom Dinossauro”), a
Pixar retornou com todas as forças em 2015, mostrando que tem fôlego de sobra
para continuar criando os mirabolantes universos fantásticos que sempre
fascinaram crianças e adultos ao longo de 20 anos de uma história de sucesso. O
que reforça o poder impresso por sua marca dentro da indústria cinematográfica
mundial, sinônimo de sua incansável fábrica de ideias, é o sucesso instantâneo
conquistado por “Divertida Mente”,
que chegou aos cinemas no meio deste ano.
Desta vez, a
ousadia criativa do estúdio resolveu explorar a mente de Riley, uma simpática
garotinha de 11 anos de idade que enfrenta um dos maiores dilemas (se não, o
maior) que um ser humano da sua idade pode ser acometido: deixar toda uma vida
em sua cidade natal para se mudar com a família para um lugar completamente
diferente. No caso de Riley, ela se muda de uma aconchegante cidade no interior
do Estado de Minnesota para a caótica e quente São Francisco, na Califórnia. Um
verdadeiro choque que deve ser assimilado com calma e extremo cuidado pelo seu
cérebro, habitado e controlado por várias emoções/personagens diferentes:
Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho.
A Alegria é a
líder das emoções e faz o possível e o impossível para que Riley esteja sempre
feliz. Entretanto, uma confusão provocada pela Tristeza na sala de controle faz
com que ela e Alegria sejam arremessadas para fora da mesma. Emocionalmente, a
vida da garota fica de cabeça para baixo enquanto duas de suas principais
emoções percorrem os seus pensamentos mais profundos buscando retornar à sala
de controle, sempre com a ajuda de Bing Bong (amigo imaginário da Riley e nosso
personagem preferido!)
“Divertida Mente” tem a seu favor, assim como a maioria
dos filmes produzidos pela Pixar, o brilhantismo de um roteiro cuidadosamente
bem escrito e bem amarrado. Riley é a protagonista do longa, mas pouco aparece.
Há muito de psicologia no filme, e são as suas animadas emoções que fazem com
que o conceito aparentemente abstrato da história possa ser traduzido em muita
diversão! O enredo é bastante complexo (tanto é que não agradou muito os
pequenos), mas nos cativa desde o princípio, além de nos deixar uma bela
mensagem que nos faz refletir sobre nossas próprias sensações e experiências ao
longo da vida.
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"Inside Out" (2015) - de Pete Docter e Ronnie Del Carmen - Walt Disney Pictures [us] | Pixar Animation Studios [us] |
6º. LUGAR: “TAXI TEERÔ
(Taxi,
Irã, 2015) - de Jafar Panahi
Data da Estreia: 19 de novembro de
2015
Saindo como a
grande vencedora do Urso de Ouro do Festival de Berlim em 2015, a aclamação do
público e da crítica à “Taxi Teerã”
de Jafar Panahi coroa uma carreira singular repleta de filmes inesquecíveis e
carregada de muita luta e coragem pessoal, sobretudo nesses últimos anos de
trabalho do destemido diretor iraniano, inimigo público número um de algumas
das maiores autoridades de seu país.
Através de um
dos gêneros (quase) infalíveis da arte cinematográfica, o falso documentário,
Panahi nos traz um panorama da vida cotidiana no Irã, disposto sobre as várias
camadas de sua sociedade. E nada melhor para construir um retrato fiel e
sutilmente humanizado dessa sociedade do que apresentá-lo ao público em um
mesmo espaço, comum a todos os concidadãos do diretor: o interior de um taxi
que, diariamente, recebe dezenas de passageiros de diferentes classes sociais.
O taxi é
guiado pelo próprio Jafar Panahi, que instala algumas câmeras no interior do
veículo a fim de registrar as suas desventuras pelas ruas de Teerã. À medida em
que vai atendendo os seus clientes, o diretor tenta esboçar algum diálogo com o
objetivo de criar um painel social diversificado e opinativo acerca de alguns assuntos
como a política nacional, os direitos civis, as crenças e os costumes locais,
dentre outros. Situações extremamente constrangedoras, delicadas ou engraçadas
também ocorrem entre a origem e o destino de cada um dos passageiros, o que
enriquece ainda mais a trajetória reflexiva e consoladora proposta para o
longa.
Panahi segue
um caminho tortuoso a bordo de uma encapsulada liberdade de expressão, mas com
um absurdo potencial criativo. Apesar de todas as limitações legais impostas ao
cineasta para a realização deste e d outros futuros filmes, ele acaba
conseguindo explorar uma narrativa original que rechaça o idealismo do direito
de escolha em detrimento ao facinoroso conceito da existência restrita.
Humor
refinado, sempre espirituoso e afiado! A verve artística e política de Jafar
Panahi está cada vez mais forte, por mais que muitos ainda insistam em calá-lo!
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"Taxi" (2015) de Jafar Panahi - Jafar Panahi Film Productions [ir] |
5º. LUGAR: “STAR WARS EPISÓDIO VII: O
DESPERTAR DA FORÇA”
(Star
Wars Episode VII: The Force Awakens, Estados Unidos, 2015) - de J. J.
Abrams
Data da Estreia: 17 de dezembro de
2015
Um dos
principais motivos para que a nossa primeira lista de melhores filmes do ano
chegasse um pouco atrasada foi a tão aguardada estreia mundial de mais um
episódio da célebre e estrondosa Saga Intergaláctica idealizada por George
Lucas há quase quatro décadas atrás. O simples fato de não nos decepcionar no
cinema já seria suficiente para colocar “O
Despertar da Força” entre os nossos dez títulos favoritos de 2015, e foi
exatamente isso que aconteceu: nas mãos de J. J. Abrams, o Universo de “Star Wars” continua poderoso,
respeitando as suas origens e despertando em novos fãs a vontade de acompanhar
todos os acontecimentos que aconteceram “há
muito tempo em uma galáxia muito distante”.
Experiente,
criativo e (relativamente) ousado, Abrams ainda não possui o currículo
magnificente de um Steven Spielberg, por exemplo, mas vem conquistando com
naturalidade o posto de maior nome do entretenimento na atualidade. Depois de
oferecer novas possibilidades à outra poderosa série de ficção científica com
dois ótimos filmes, “Star Trek”
(2009) e “Além da Escuridão: Star Trek”
(2013), o diretor usou uma fórmula diferente para o novo “Star Wars” (no caso mais uma fantasia do que, propriamente, um sci-fi): contar uma história que caminha
entre a continuação e a refilmagem acabou misturando, de maneira genial, os
sentimentos nostálgicos com os encantamentos frente as novidades. J. J. Abrams
não continuará atrás das câmeras para comandar o “Episódio VIII”, mas segue como produtor executivo da nova
trilogia. Vem coisa muito boa por aí!
Agora, falar
especificamente do filme seria pouco proveitoso neste espaço, até mesmo porque
muitas pessoas ainda não tiveram a oportunidade de acompanhar este novo
episódio, e estragar algumas das maiores surpresas de “O Despertar da Força” não está nos nossos planos. O importante é
ressaltar que toda mitologia e as referências mais populares da saga continuam
sendo claramente manifestadas; e o retorno do trio Mark Hamill, Carrie Fisher e
Harrison Ford (este último, peça mais que fundamental no enredo) não aparece,
aqui, simplesmente para ser homenageado.
Chewbacca,
C-3PO, R2-D2, estão todos de volta! Mas uma das coisas que mais nos emociona é
saber que, passados anos do lançamento das outras duas trilogias, ainda
conseguimos somos capazes de fazer incríveis novos amigos: Rey (Daisy Ridley) e
Finn (John Boyega) são divertidos e apaixonantes; Poe Dameron (Oscar Isaac) é o
piloto de X-Wing que sempre sonhamos ser; BB-8 (nem precisávamos dizer) esbanja
simpatia; e Kylo Ren (Adam Driver) é aquele que que amaremos odiar... A Força
voltou com tudo!
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"Star Wars Episode VII: The Force Awakens" (2015) - de Lucasfilm [us] | Bad Robot [us] | Truenorth Productions [is] |
4º. LUGAR: “PERDIDO EM MARTE”
(The
Martian, Estados Unidos | Reino Unido, 2015) - de Ridley Scott
Data da Estreia: 1º. de outubro de
2015
Dentre todas
as boas megaproduções realizadas por Hollywood em 2015, a escolha pontual de “Perdido em Marte” para figurar na lista
dos melhores filmes do ano se faz absolutamente necessária. Depois de uma
sequência de trabalhos decepcionantes como “Prometheus”
(2012), “O Conselheiro do Crime”
(2013) e “Êxodo: Deuses e Reis”
(2014), celebrar a volta de Ridley Scott à boa forma, assumindo aqui um
ambicioso projeto de sucesso, é primordial!
Baseado no
romance de ficção científica “The
Martian” de Andy Weir, o longa de Scott caminha por terrenos mais seguros
que não extrapolam os esforços excepcionais dos astronautas de “Gravidade” (2013) de Alfonso Cuarón, e
muito menos se desvairam pelo universo positivamente desorientador de “Interestelar” (2014) de Christopher
Nolan. “Perdido em Marte” é, sem
dúvida, uma experiência cinematográfica mais “degustativa”, um blockbuster levemente ruidoso (no seu
melhor sentido) e extremamente agradável.
Botânico da
pequena tripulação da Ares III (Missão que promove pesquisas em Marte a serviço
da Nasa), o astronauta Mark Watney (Matt Damon) é atingido por uma antena e
dado como morto após desaparecer em uma inesperada tempestade de poeira no Planeta
Vermelho. Sem se dar conta de que o colega poderia estar apenas desacordado, a
equipe comandada pela dedicada e experiente Melissa Lewis (Jessica Chastain)
decide interromper os trabalhos, abortar a missão e retornar imediatamente para
a Terra. Sozinho em solo marciano, Watney desperta e agora deve enfrentar todos
os tipos de adversidades para sobreviver com suprimentos escassos em um
ambiente tempestuosamente inóspito.
O que
observamos a partir do incidente são uma série de situações incrivelmente dramáticas
ou hilariantes que nos fazem ficar ainda mais íntimos do personagem principal.
O carisma peculiar de Matt Damon ajuda a construir um Mark Watney otimista,
irônico e, sobretudo, perseverante sempre que confrontado por situações
desfavoráveis. Os registros bem-humorados de suas experiências científicas em
prol da própria vida só reforçam a nossa torcida para que esse improvável herói
aguarde o seu resgate com total invulnerabilidade.
A operação de
resgate é, inclusive, um dos pontos de sustentação mais sublimes de todo o
filme. Saber que boa parte das maiores mentes pensantes do planeta (Terra) se
engajaram e se dedicaram, de maneira quase exclusiva, para salvar a vida de um
único ser humano é imensamente gratificante e prazeroso, mesmo que expedições desse
tipo ainda orbitem apenas pelo universo da ficção.
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"The Martian" (2015) de Ridley Scott - Twentieth Century Fox Film Corporation [us] | Scott Free Productions [gb] Genre Films [us] | International Traders [jo] | Mid Atlantic Films [hu] |
3º. LUGAR: “A PELE DE VÊNUS”
(La
Vénus à la Fourrure, França | Polônia, 2013) - de Roman Polanski
Data da Estreia: 24 de setembro de
2015
Destaque da
já longínqua edição de 2013 do Festival de Cannes, onde foi um dos concorrentes
à Palma de Ouro, o último longa-metragem do diretor francês Roman Polanski
chegou com um relativo atraso às salas de cinema do Brasil. “A Pele
de Vênus” é a versão cinematográfica para a montagem teatral de sucesso do
dramaturgo estadunidense David Ives que, por sua vez criou o argumento da peça
através de uma adaptação clássica do romance homônimo do escritor e jornalista
austríaco Leopold von Sacher-Masoch.
Com uma
narrativa extremamente envolvente, a trama é desencadeada pelas ações de uma
atriz que não mede esforços para tentar convencer um diretor de teatro de que
ela seria a escolha perfeita para interpretar o papel da protagonista de sua
mais nova peça, “La Vénus à la Fourrure”,
inspirada na obra de Sacher-Masoch. Em vários momentos de pura inconveniência,
e outros de extrema sensualidade, Vanda (Emmanuelle Seigner) consegue intimidar
e forçar Thomas (Mathieu Amalric) a não só iniciar a sua audição, como também
participar da réplica de suas falas. Todas as ações do filme se passam dentro
de um velho teatro vazio durante uma tempestade na noite de Paris.
Relutante em
fazer o teste desde o início, Thomas começa a ser seduzido pela surpreendente e
formidável interpretação de Vanda e depois acaba sendo arrastado e cercado
pelos encantos de uma mulher de personalidade e intenções ambivalentes (ou
melhor, ambíguas). Dotado de instabilidade emocional, o diretor adentra no jogo
de cena proposto pela sua “candidata”, afinal, ela é realmente perfeita para o
papel! E o que era para ser um simples teste prossegue para um verdadeiro
ensaio, ou melhor, para uma encenação da peça, onde ator, personagem e dramas
pessoais se misturam. Vanda acusa Thomas repetidas vezes por ter escolhido um
tema sexista para a peça e a angústia deflagrada começa a perseguir ambos a
cada ato encenado.
Denso, tenso
e explicitamente erótico! “A Pele de
Vênus” deforma os conceitos da libido, do machismo, do sadomasoquismo e do
abuso sexual, abrindo um leque de possibilidades temáticas que discutem como é
desigual o tratamento nas relações entre homens (sempre superiores) e mulheres
(tratadas de maneira depreciativa) em ambientes como os do cinema e do teatro.
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"La Vénus à la Fourrure" (2013) de Roman Polanski - R.P. Productions [fr] | A.S. Films [fr] |
2º. LUGAR: “WHIPLASH: EM BUSCA DA
PERFEIÇÃO”
(Whiplash,
Estados Unidos, 2014) - de Damien Chazelle
Data da Estreia: 8 de janeiro de 2015
Escrito e
dirigido pelo jovem e promissor Damien Chazelle, esta verdadeira joia do cinema
independente dos Estados Unidos conquistou o grande público como há muito não
se via e continua sendo um sucesso absoluto desde o seu lançamento. Um dos
primeiros títulos a chegar aos cinemas do Brasil em 20015, “Whiplash: Em Busca da Perfeição” é um filme para ver, ouvir e,
sobretudo, refletir. O grande vencedor do tradicional Festival de Sundance em 2014
propõe discutir a música não apenas em seu sentido amplo e contemplativo, mas
também questionar os limites que algumas pessoas estão dispostas a extrapolar a
fim de alcançar uma excelência pré-determinada pelas suas ambições.
Afinal, é
válido submeter talentos prodigiosos da música a uma condição cruel e
humilhante para retirar deles a sonora perfeição de seus dons? O elegante
brilho improvisado do jazz e a poderosa assinatura de duas furiosas baquetas
vão além dos ritmos pelos quais a história de superação do jovem baterista
Andrew Neyman (Miles Teller) são embaladas. O início de sua carreira já soa
doentio, afinal o próprio Andrew se cobra muito, desejando transformar-se
brevemente em um dos maiores músicos de sua geração. Com muito estudo e trabalho,
ele acaba conseguindo uma vaga no conservatório mais conceituado do país, e
após muitos outros ensaios, Neyman conquista o posto de baterista substituto da
banda principal da escola.
O
desenvolvimento musical do jovem, contudo, é acompanhado sob as severas vistas
e impecáveis ouvidos do autoritário Terence Fletcher (J. K. Simmons),
regente/comandante titular da banda. A truculência que dita o perfeccionismo
almejado por Fletcher desafia os sentidos, a sanidade e a saúde de Andrew que
continua ensaiando exaustivamente até alcançar uma situação degradante. A
autodestruição do músico caminha pela tênue linha que separa o estimulante
incentivo de um professor entusiasmado e o fustigante abuso de um mestre
tirano.
Simmons,
vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel, domina a projeção e
rouba a cena desde o início, mas Miles Teller também se agiganta, colocando a
sua atuação (e desempenho musical) em um nível extremamente elevado. Prova
disso é o frenético embate final entre professor e aluno, capaz de fazer inveja
às sequências dos mais célebres dos duelos de westerns estadunidenses. “Whiplash:
Em Busca da Perfeição” é pura transpiração, sangue, lágrimas e aplausos!
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"Whiplash" (2014) de Damien Chazelle - Bold Films [us] | Blumhouse Productions [us] | Right of Way Films [us] |
1º. LUGAR: “BIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA)”
(Birdman
or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Estados Unidos, 2014) - de
Alejandro González Iñárritu
Data da Estreia: 29 de janeiro de 2015
Despretensiosamente
poderoso, “Birdman ou (A Inesperada
Virtude da Ignorância)” é um dos projetos cinematográficos mais ousados dos
últimos anos. Grande vencedor da última edição do Oscar, o longa-metragem
dirigido pelo diretor mexicano Alejandro González Iñárritu não decepcionou em
nenhum momento, se transformando em um produto exemplar e resoluto desde o
instante em que foi anunciado como uma mordaz e avinagrada crítica ao show business e ao feroz e impiedoso universo
particular dos críticos de arte.
Apesar de
apontar um acuminado dedo repreensor sobre a própria indústria que o consagrou,
a atmosfera do filme é carregada de coragem e não se importa com as
consequências que as frenéticas sátiras ela propõe “vender” poderiam acarretar.
Entretanto, toda a vivacidade e carga dramática da trama recai sobre os ombros
e sobre o egocentrismo exacerbado de Riggan Thompson (Michael Keaton), um ator
decadente que está atrás de um reconhecimento e de uma adoração pública que, na
verdade, sempre possuiu, mesmo que escondido por detrás da máscara do popular
super-herói Birdman.
Recusando de
prontidão um quarto projeto que retomaria a milionária franquia de filmes com o
personagem que o transformou em um astro de Hollywood há mais de duas décadas,
Riggan prefere (re)conquistar o prestígio se aventurando na direção de um
espetáculo consagrado da Broadway, inspirado em um conto de realismo sujo do
escritor Raymond Carver. A peça, é claro, será roteirizada, adaptada e
estrelada pelo próprio Riggan Thomson, já dominado pela arrogância e pela
impulsividade de um ilusório narcisismo.
É óbvio que o
progresso de sua nova empreitada não iria transcorrer tranquilamente. Em meio
aos ensaios e a poucos dias da estreia, Riggan enfrenta uma série de contratempos:
um dos principais integrantes do elenco se acidenta e é prontamente substituído
pelo talentoso (mas, petulante) Mike Shiner (Edward Norton); a namorada e
colega de elenco, Laura (Andrea Riseborough) acredita que está grávida; e Sam
(Emma Stone), sua única filha, parece estar próxima de uma recaída dias depois
de ter saído de uma clínica de reabilitação. Para piorar situação, Thomson precisa
lidar com as pressões de seu agente (Zach Galifianakis); das pesadas e insensíveis
críticas de uma colunista do New York Times (Lindsay Duncan); e de uma estranha
e misteriosa voz que insiste em embaralhar os seus pensamentos.
Ainda
acreditando ser o sujeito especial que, infortunadamente, se transformou em um
talento desperdiçado, Riggan vira a chave e passa do artista malogrado e incompreendido
para o homem que percebe que sempre foi o herói de seus próprios devaneios, sendo
que somente ele pode “desbaratinar” essas fantasias. A inesperada virtude
carregada de completa ignorância é a catarse final de um personagem que, enfim,
tem o valor de seu talento reconhecido!
O FILME DO
ANO!
Bom, também entendemos que, com um cardápio tão variado e
excelente quanto o que tivemos esse ano, o tamanho de uma lista com apenas dez
filmes acaba ficando muito pequeno. Dessa forma, resolvemos incluir, no final
deste artigo, pequenas listas que citam somente o título, o ano de produção e o
diretor de filmes que se encaixam em algumas categorias que também julgamos
importantes. Confira:
Também mereceram destaque este ano: “A Acusada”
(2014) de Paula van der Oest; “Acima das
Nuvens” (2014) de Olivier Assayas; “Blind”
(2014) de Eskil Vogt; “Para Sempre Alice” (2014) de Richard Glatzer e Wash Westmoreland; “Sono de Inverno” (2014) de Nuri Bilge Ceylan; e “Vício Inerente” (2014) de Paul Thomas
Anderson.
Não vimos e nem veremos: “Ted
2” (2015) de Seth MacFarlane.
Ainda faltam ser conferidos: “O Clã” (2015)
de Pablo Trapero; “O Clube” (2015) de Pablo Larraín; “Expresso do Amanhã” (2013) de Joon-ho
Bong; “Força Maior” (2014) de Ruben
Östlund; “Jurassic World: O Mundo dos
Dinossauros” (2015) de Colin Trevorrow; e “Ponte dos Espiões” (2015) de Steven Spielberg.
Podem obter grande destaque em 2016: “O Filho de Saul” (2015) de László Nemes; “A Garota
Dinamarquesa" (2015) de Tom Hooper; “Juventude” (2015) de Paolo Sorrentino; “Procurando Dory” (2016) de Andrew Stanton e Angus MacLane; “Os Oito Odiados” (2015) de Quentin
Tarantino; e “Tangerina” (2015) de
Sean Baker.
Maior expectativa para 2016: “O
Regresso” (2015) de Alejandro González Iñárritu (ele, mais uma vez!).
(*) Lembrando
que críticas, apontamentos de injustiças ou esquecimentos podem ser expressos
nos comentários... ;-)
(**) Também
não descartaremos os elogios! :-D
ENTÃO É ISSO!
QUE O ANO DE 2016 SEJA TÃO ESPECIAL QUANTO FOI O DE 2015: UM ANO DE EXCELENTES
FILMES, INESQUECÍVEIS PARA TODOS NÓS!
VIVA O
CINEMA!