Originalidade agressiva e delirante! “Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa” do diretor brasiliense
Gustavo Galvão oferece ao público a chance de experimentar, de maneira profunda,
os questionamentos de sua própria existência. Ao embarcarem e se compararem com
as personagens deste moderno road movie,
os espectadores talvez se encontrem, ao final da projeção, tão desvirtuados quanto
a atônita e infrene humanidade que, por vezes, acabam renegando cegamente
estarem incluídos. Diretamente influenciado pelo movimento beatnik, o longa dará
sequência à programação de 2015 do Projeto
“Cinema em Transe” e poderá ser conferido hoje, às 20:00, na Sala Professor
José Tavares de Barros do Sesc Palladium, no centro de Belo Horizonte.
Perdida na decrépita e árida paisagem do Planalto Central
encontramos a desvanecida figura de Pedro (Vinícius Ferreira), jovem de trinta
e poucos anos que decidiu abandonar a sua casa planejando nunca mais voltar. Levando
apenas as roupas do corpo, ele cai na estrada sem sequer saber para onde ir. Em
sua desnorteada jornada, Pedro acaba conhecendo Lucas (Marat Descartes) em uma
lanchonete de beira de estrada já no Estado de Minas Gerais. Astucioso, Lucas
também não sabe o que quer da vida, mas sabe que a estrada é o palco ou o
cenário ideal para construir a sua história. Embora a apatia do primeiro
interponha a sagacidade do segundo, os dois acabam seguindo o caminho juntos pois,
apesar de serem muito diferentes, ambos procuram boas e novas experiências tentando
extrair delas uma dose violenta de qualquer coisa.
Indicado em 2015 na categoria de melhor filme do Festival
de Cinema Itinerante em Língua Portuguesa (FESTin Lisboa), “Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa” também permaneceu destacado
em alguns dos principais Festivais de Cinema do Brasil, sendo exibido nas tradicionais
Mostras de Tiradentes (em sua 17ª. edição), e na Internacional de São Paulo (37ª.
edição). Já no 46º. Festival de Brasília, o filme foi muito bem recebido pela
crítica especializada sendo, inclusive, premiado com o troféu de melhor trilha
sonora na ocasião.
Exibido no pequeno e restrito circuito alternativo de
algumas capitais do país, o filme ainda poderá ter uma carreira interessante se
ampliar o seu parque exibidor ou atingir públicos maiores e mais diversificados
caso as suas ideias e propostas sejam abraçadas e disseminadas por aqueles que já
o assistiram. Oferecendo mais perguntas do que respostas e colocando
constantemente a vulnerabilidade do ser humano contra a parede, o ritmo colérico
e pulsante imposto por “Uma Dose Violenta
de Qualquer Coisa” reinventa e oferece novas formas de interpretações para
gêneros tradicionais do cinema mundial (como é o caso dos road movies) e bebe na fonte de heranças valiosas para o nosso país
(como o Cinema Marginal, por exemplo) para imprimir uma assinatura poderosa e singularíssima.
![]() |
"Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa" (2013) de Gustavo Galvão - 400 Filmes [br] |
Nascido em Brasília (DF), Gustavo Galvão é graduado em jornalismo pela UnB e teve a sua formação profissional estabelecida fora do país através da especialização em cinema pela Escuela Superior de Artes y Espectáculos de Madri, na Espanha. Curador e crítico de cinema, Gustavo se arrisca na direção desde 2002 surpreendendo público e crítica com a realização de excelentes curtas-metragens. Ao todo, foram sete trabalhos no espaço de sete anos, com grandes destaques para "Emma na Tempestade" (2002), seu filme de estreia; "As Incríveis Bolinhas do Doutor Sorriso Sarcástico" (2003); "Uma Noite com Ela" (2005); o excepcional "A Vida ao Lado" (2006); e "A Minha Maneira de Estar Sozinho" (2008). Em seu primeiro longa, "Nove Crônicas para um Coração aos Berros" (2012), o diretor já mostrava os caminhos que planejava seguir com sua revolução criativa e sua vitalidade latente, estabelecendo uma estética cinematográfica baseada nos seus (e nos nossos) próprios conflitos existenciais. O cineasta estará presente na Sala Professor José Tavares de Barros na noite de hoje para participar de um debate sobre "Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa" logo após a sua projeção.
Criado em janeiro de 2013 com o intuito de promover o Cinema Nacional, o Projeto “Cinema em Transe” se transformou em um importante veículo para a disseminação de produções lançadas recentemente e que obtiveram destaque significativo em mostras e festivais de cinema pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo desses últimos dois anos, as ações do projeto contribuíram muito para a divulgação e difusão do cinema produzido no país, explorando vários temas e possibilitando um contato maior do público com importantes obras da nossa cinematografia, por vezes raras e de difícil acesso.
Ressalvando o enorme valor cultural do projeto, vale
lembrar que as exibições no Sesc Palladium são quinzenais e em sessão única.
Dessa forma, se a divulgação desses filmes não for feita permanentemente,
muitos deles continuarão enfrentando grandes dificuldades para serem
distribuídos ou se lançarem no circuito comercial. Alguns desses excelentes
filmes, por exemplo, são inéditos em Belo Horizonte e, lamentavelmente, terão
pouco ou nenhum destaque nas salas de cinema da cidade. Confira, então, as
produções já exibidas pelo projeto em 2015 com o link para os respectivos
artigos e ajudem a divulgá-los:
- “Branco Sai,
Preto Fica” (DF) de Adirley Queirós;
Viva o Cineclubismo e viva o Cinema Nacional!
Observação: a entrada para a sessão de “Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa”
esta noite é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do
Sesc Palladium meia hora antes da sessão. O espaço está sujeito a lotação.
A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada
no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário