terça-feira, 27 de outubro de 2015

“A História da Eternidade” de Camilo Cavalcante é destaque do Projeto “Cinema em Transe” nesta terça no Sesc Palladium | Rotina em Belo Horizonte

A beleza da poesia invade o sertão pernambucano para nos contar um pouco mais sobre o instintivo e fatalista destino da humanidade, revelado através da sua angustiosa e, por vezes, imodesta vontade de se encontrar com a própria (in)finitude. Primeiro longa-metragem do diretor recifense Camilo Cavalcante, “A História da Eternidade” dará sequência à variada programação de 2015 do Projeto “Cinema em Transe” e poderá ser conferido hoje, às 20:00, na Sala Professor José Tavares de Barros do Sesc Palladium, no centro de Belo Horizonte.

Ensaio sinestésico do amor, dos sonhos e dos desejos emanados pelo Sertão, “A História da Eternidade” acompanha três gerações de mulheres que vivem suas intensas paixões em um desértico vilarejo do nordeste brasileiro, cada uma ao seu modo. Alfonsina (Débora Ingrid) aguarda ansiosa pelo seu aniversário de 15 anos; Querência (Marcelia Cartaxo) procura castelar a sua felicidade ouvindo apaixonadas serenatas; já Aureliana (Zezita Matos) espera apenas um abraço de seu neto, que em breve chegará para uma visita. Os sentimentos dessas mulheres revolucionarão a paisagem afetiva de todos moradores da comunidade, personagens fantásticos de um mundo romanesco no qual as concepções de vida são limitadas; ordinários, porém virtuosos seres humanos que lidam com as expectativas através da eterna agonia da espera, a única saída para enfrentar a trágica e obscura realidade deflagrada pela seca.

Não obstante, os buracos cavados pela aflição ou pela frágua flagelante dessas três mulheres são devidamente preenchidos por uma entrega ou por uma infortunada admiração que as mesmas mantêm pelas personagens masculinas do filme; figuras igualmente fortes que, sob o mesmo sol escaldante do vilarejo, se comportam ao mesmo tempo languidas e honestamente sóbrias frente aos tórridos desafios impostos pela aceitação definitiva de suas condições ou pelo reencontro cruel com as suas indissociáveis mazelas. Destacam-se, no elenco, nomes de peso como o talentoso Claudio Jaborandy e o unânime Irandhir Santos que, aqui, contribuem intensamente para a dar à “A História da Eternidade” os contornos necessários que revelem a crueza vergasta da nossa própria existência.

Selecionado em 2014 para a tradicional Mostra Brigth Future do Festival de Roterdã, na Holanda, “A História da Eternidade” já trilha uma carreira de sucesso por outros festivais e mostras espalhados pelo Brasil e pelo mundo sendo, inclusive, o grande vencedor do (cada vez mais tradicional) Festival de Paulínia. Na edição de 2014, o longa abocanhou o grande prêmio da crítica e foi eleito o melhor filme tanto pelo júri oficial quanto pela imprensa especializada. Camilo Cavalcante ainda foi escolhido como o melhor diretor e, pelas soberbas atuações, Irandhir Santos levou o prêmio de melhor ator e o trio de protagonistas (Débora Ingrid, Marcelia Cartaxo e Zezita Matos) dividiram o prêmio de melhor atriz.

"A História da Eternidade" (2014) de Camilo Cavalcante - Aurora Cinema [br] | República Pureza [br]

Representante nato do pujante e visceral cinema novo pernambucano, Camilo Cavalcante desponta como um dos cineastas mais promissores desta safra absurdamente original e inventiva. Com uma série de curtas-metragens no currículo, o diretor construiu uma base sólida para contar as suas histórias através do pequeno e árido universo sertanejo, cenário no qual o tempo e a esperança sempre foram matérias inseparáveis. Dentre esses pequenos trabalhos destacam-se: “Ocaso” (1997); “Leviatã” (1999); e “O Velho, o Mar e o Lago” (2000); além de “A História da Eternidade” (2003), curta experimental que serviu de base para Camilo construir a narrativa de seu longa homônimo.

Vale lembrar que, após a projeção de "A História da Eternidade" na noite de hoje, Camilo Cavalcante estará presente na Sala Professor José Tavares de Barros para participar de um debate sobre o filme com mediação do jornalista e crítico de cinema Mrcelo Miranda.

Criado em janeiro de 2013 com o intuito de promover o Cinema Nacional, o Projeto “Cinema em Transe” se transformou em um importante veículo para a disseminação de produções lançadas recentemente e que obtiveram destaque significativo em mostras e festivais de cinema pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo desses últimos dois anos, as ações do projeto contribuíram muito para a divulgação e difusão do cinema produzido no país, explorando vários temas e possibilitando um contato maior do público com importantes obras da nossa cinematografia, por vezes raras e de difícil acesso.

Ressalvando o enorme valor cultural do projeto, vale lembrar que as exibições no Sesc Palladium são quinzenais e em sessão única. Dessa forma, se a divulgação desses filmes não for feita permanentemente, muitos deles continuarão enfrentando grandes dificuldades para serem distribuídos ou se lançarem no circuito comercial. Alguns desses excelentes filmes, por exemplo, são inéditos em Belo Horizonte e, lamentavelmente, terão pouco ou nenhum destaque nas salas de cinema da cidade. Confira, então, as produções já exibidas pelo projeto em 2015 com o link para os respectivos artigos e ajudem a divulgá-los:

- “Branco Sai, Preto Fica” (DF) de Adirley Queirós;














Viva o Cineclubismo e viva o Cinema Nacional!


Observação: a entrada para a sessão de “A História da Eternidade” esta noite é gratuita, mas é necessário retirar os ingressos na bilheteria do Sesc Palladium meia hora antes da sessão. O espaço está sujeito a lotação.

A Sala Professor José Tavares de Barros está localizada no Sesc Palladium, na Avenida Augusto de Lima 420, centro de Belo Horizonte.

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