Neste exato momento, em uma longínqua manhã de 26 de
outubro de 1985, Doc. Emmett Brown reabastece o dispositivo gerador de energia do
capacitor de fluxo de seu DeLorean DMC-12 com uma quantidade considerável de
lixo orgânico doméstico, o indelével combustível do nosso infindo amanhã. O
objetivo? Levar Marty McFly e Jennifer Parker “de volta para o futuro”. A data?
21 de outubro de 2015, 30 anos depois! O nosso eterno herói tem um grande
problema familiar para resolver e chegará, em algumas horas, a um futuro muito
distante, popularmente conhecido pelo locutor da rádio que você estava ouvindo no
início desta manhã como HOJE!
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Painel do circuito de tempo da DeLorean indicando o dia 21 de outubro de 2015 como data a ser visitada. Universal Pictures [us] | Amblin Entertainment [us] | U-Drive Productions |
Apesar de ter sido lançado em 1989, os acontecimentos de “De Volta para o Futuro - Parte II”
começam a se desenrolar também em 1985, imediatamente após Marty (Michael J.
Fox) despertar no dia seguinte à sua incrível jornada de uma semana no ainda
mais distante ano de 1955. Prestes a viajar com Jennifer (Elisabeth Shue) para
um acampamento no interior da Califórnia, o jovem é abordado por Doc.
(Christopher Lloyd) que, antes de envolvê-lo em mais uma aventura pelo
conturbado e elétrico 12 de novembro de 1955 (passando ainda por um distópico
1985), transporta-o exatamente para o dia de hoje, a fim livrar o próprio
filho, Marty McFly Jr. (interpretado também por Michael J. Fox), de uma grande
confusão.
Com a famosa frase de Doc. “para onde vamos não precisamos de estradas...”, DeLorean finalmente
nos revela a sua capacidade de voar e conduz Marty, Jennifer, o cãozinho
Einstein e a todos nós, fãs enlouquecidos da série, para aquele deslumbrante futuro
high-tech que sempre sonhamos conhecer.
Entretanto, caso fosse verdadeiramente possível, McFly desembarcaria em uma Hill
Valley bem diferente da retratada na primeira terça parte do segundo filme da
trilogia dirigida por Robert Zemeckis.
Os tão falados carros voadores estão longe de ser uma
realidade. Para piorar a situação, o fluxo e o trânsito de veículos nas grandes
(ou até mesmo pequenas) cidades se encontra à beira de um colapso.
Congestionadas, as não suficientemente largas ruas e avenidas se comportam como
veias obstruídas por excessos; inconveniências de um organismo representado por
uma humanidade igualmente caótica que se distancia, cada vez mais, de um mundo
mágico e tecnologicamente perfeito que já fora idealizado na série animada “Os Jetsons” (1962 - 1963), por exemplo.
Nós, homens do futuro, também não temos os sonhados e
dinâmicos skates voadores, as modernas hoverboards que resolveriam alguns dos
nossos maiores problemas de mobilidade, mas, por algum acaso, Marty McFly ainda
poderia ao menos conhecer e interagir com alguns membros do badalado movimento
cicloativista; movimento que apenas engatinha pelas “ruas megalopolitanas” da
Terra e que ainda se encontra em processo pré-embrionário, pelo menos por aqui,
no Brasil.
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Skates voadores, as modernas Hoverboards sendo utilizadas em "Back to the Future - Part II" (1989) de Robert Zemeckis Universal Pictures [us] | Amblin Entertainment [us] | U-Drive Productions |
Quando digo que, na sua chegada ao futuro, Marty McFly
poderia estabelecer um simples contato ou interação com alguém pela força do
acaso, reitero que, assim como o trânsito das grandes cidades, os habitantes deste
“moderno e progressista” Planeta Terra de 2015 também se encontram imersos em
um caos insolvente. Acometidos por um frenesi extasiante que rompeu inúmeras barreiras
e criou novas fronteiras para o mundo (inclusive virtuais), todos acabaram sendo
transformados em donos das próprias vidas, filósofos de si mesmos; seres nada
simpáticos e, provavelmente, pouco receptivos à viajantes do tempo, afinal
estariam/estão entretidos consigo mesmos em seus tecnológicos aparelhos celulares.
Neste ponto, Zemeckis e o roteirista Bob Gale conseguiram
até prever algumas poucas coisas. Mesmo sem profetizarem a invenção da internet
e a evolução de seus navegadores (incrivelmente ocorridas um ano após o
lançamento do filme), podemos observar videogames sendo jogados sem controle; compactos,
finos e minúsculos computadores que desempenham funções semelhantes aos tablets
e smartphones dos dias atuais; e ligações (chamadas de vídeo) e várias outras
atividades (como pagar uma corrida de táxi, por exemplo) que podem ser realizadas,
inclusive, pelo reconhecimento biométrico ou pelo simples controle ou comando
de voz através de microcomputadores (no caso do filme, nem tão micros assim!). O
que os dois não imaginavam era o quão dependente nós, habitantes do estranho mundo
de 2015, ficaríamos destes pequenos e revolucionários dispositivos. Somos, hoje,
bilhões de reféns (ou quase escravos) de toda esta tecnologia.
Certamente o espanto seria enorme, e tanto McFly quanto
Doc. enfrentariam sérios problemas, pelo menos para estabelecer um primeiro
contato com a sua própria espécie, visto que os humanos de hoje já não
conseguem olhar nem mesmo para os seus próprios narizes ou umbigos. Todos estão
extremamente preocupados com as suas “selfies”
e com as suas próximas refeições, que devem ser fotografadas diariamente, em
alta definição, e compartilhadas com o mundo que estará curtindo instantaneamente
a publicação de um prato que está sendo devorado praticamente no mesmo momento.
Tempos esses em que pizzas estão cada vez mais incrementadas e “gourmetizadas”
e cada vez menos (acreditem!) práticas e desidratadas.
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Marty McFly (Michael J. Fox) e Doc. Emmett Brown (Christopher Lloyd) no distante futuro de 21 de outubro de 2015. Universal Pictures [us] | Amblin Entertainment [us] | U-Drive Productions |
Profecias e previsões furadas como as roupas e os calçados
auto ajustáveis; a coleira que passeia sozinha com os cães; a sobrevivência do
fax; e até mesmo a visita da Rainha Diana da Inglaterra aos Estados Unidos, rechaçam
muito do que Doc. viu por aqui há alguns anos atrás e só confirmam muitas
coisas que Marty realmente não veria por aqui hoje. No entanto, dentre todos
esses presságios, um deles também está muito próxima de não se concretizar, mas
ainda há tempo para que McFly chegue e reforce a torcida para que a tradicional
e “adorável perdedora” equipe do Chicago Cubs vença a Liga Nacional da Major
League Baseball e avance às finais da World Series, um título que não conquistam
desde 1908 e que foi predito e prognosticado por Zemeckis e Gale no roteiro do
filme. Na vida real, essa provável conquista é praticamente impossível, já que
o favorito, New York Mets, lidera a série melhor de sete por 3 a 0. Hoje tem
mais jogo!
Assim como no esporte, o mais curioso é observar que, no
mundo do entretenimento, os autores “De
Volta para o Futuro” conseguiram desenhar de forma perfeitamente crítica os
contornos de uma curiosa situação pela qual a indústria cinematográfica vem
passando atualmente, apesar de se configurar como mais uma previsão furada. Em
um determinado momento, McFly se depara com um cinema que tem “Tubarão 19” como o principal filme em
cartaz. Isso mesmo! A décima oitava sequência do sucesso de Steven Spielberg
que ainda traria a sua principal personagem em um holograma “assustador” que
prometeria “aterrorizar” o seu público.
“Felizmente”, a franquia de “Tubarão” chegou “apenas” à sua quarta sequência, mas podemos
interpretar tal a crítica à obsessão doentia que Hollywood vem demonstrando ao
lançar sequências e mais sequências de qualquer outra franquia de sucesso,
dentre elas remakes sofríveis de clássicos absolutos; filmes de ação que
invadem salas de cinema de maneira veloz e furiosa; adaptações de best-sellers
recentes que sequer esquentaram as prateleiras de livrarias; e, principalmente,
filmes de super-heróis que já tem anunciadas sequências, remakes ou prequels para os próximos três, quatro
ou cinco anos.
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McFly observa "Jaws 19" em cartaz nos cinemas em 2015 Universal Pictures [us] | Amblin Etertainment [us] | U-Drive Productions |
“Tubarão 19” não chegou em Holomax aos cinemas em
2015 (apesar do trailer fictício lançado pela Universal na semana passada), entretanto, relançamentos de filmes
clássicos em 3-D (principalmente antigas animações da Disney e da Pixar) são
destaques nos circuitos de estreias pelas salas do mundo inteiro já há alguns
anos. Para complementar, McFly ainda chegará em meio ao furor delirante da
proximidade da estreia mundial de “Star
Wars Episódio VII: O Despertar da Força” (2015), que será lançado em 3D e
IMAX 3D. Será que ele vai curtir? Só ele poderá nos dizer...
Apesar de continuar a ser uma grande fábrica de sonhos, o
cinema mudou, e muito! O mundo mudou e as pessoas também mudaram. Com tudo
isso, a tecnologia evoluiu de uma forma tão avassaladora que fica difícil
imaginar como seria entrar no DeLorean e avançar por mais 30 anos no
espaço-tempo.
A resposta não estará nos filmes, nem nos livros, e muito
menos em almanaques com resultados esportivos de um século inteiro. O Futuro
depende dos nossos sonhos e das nossas vontades, e basta estarmos vivos para
estarmos preparados para todas essas mudanças!
OUT A TIME!
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