Imponente, segura, doce e, sobretudo, amorosa. As
memoráveis interpretações de Emmanuelle Riva são hoje um patrimônio do cinema
francês e mundial. Vítima de um câncer, a atriz faleceu nesta última
sexta-feira, dia 27 de janeiro, aos 89 anos em Paris.
Invariavelmente, as homenagens à atriz são pautadas pelos
dois principais filmes que delinearam a sua trajetória: um deles realizado no
começo de sua promissora carreira; e o outro já no final, um trabalho surpreendente
que foi responsável por coroar uma carreira que, mesmo bem distante dos
holofotes, sempre foi recheada de papéis absolutamente marcantes.
“Hiroshima, meu Amor” (1959) de Alain Resnais é uma
manifestação artística estrondosa e, ao mesmo tempo, silenciosa sobre o
passado, o presente e a memória. Um filme que trabalha a dor e evoca a paz ao
contar de forma melancólica a relação de uma atriz francesa e de um arquiteto
japonês em meio a uma cidade devastada por um bombardeio. Emmanuelle Riva está
perfeita, pois é dona de um olhar enigmático e lancinante que conquista o
espectador. Além disso, ela mostra um controle absurdo ao conduzir o drama de
sua personagem e demonstra uma maturidade espantosa para uma atriz que estava
apenas em seu terceiro trabalho para o cinema.
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Emmanuelle Riva (1927 - 2017) em "Hiroshima, mon Amour" (1959) de Alain Resnais Argos Films [fr] | Como Films [fr] | Daiei Studios [jp] | Pathé Entertainment |
Nos anos que se seguiram, Emmanuelle
Riva teve a oportunidade de trabalhar com grandes diretores do cinema europeu,
tais como Antonio Pietrangeli, Fernando Arrabal, Jean-Pierre Melville e Laslo Benedek. Nos
anos 60 foram mais dois grandes trabalhos de destaque: como coadjuvante no
doloroso “Kapò: Uma História do
Holocausto” (1960) de Gillo Pontecorvo; e como a descompensada protagonista
de “Thérèse Desqueyroux” (1962) de
Georges Franju, papel que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz do Festival de
Veneza no mesmo ano.
Ao longo das décadas, era difícil para
Emmanuelle Riva manter ou pelo menos replicar o impacto de suas primeiras
atuações. Mesmo assim, sua presença era constantemente requerida,
principalmente em produções francesas tanto do cinema quanto da televisão.
Procurando sempre alternativas que fugiam às obviedades e ao mainstream, a atriz dificilmente
emplacava alguma obra nos circuitos, principalmente em mercados tão distantes
quanto o latino-americano, por exemplo. Mesmo assim, alguns filmes dos quais
ela participou vieram a chamar a atenção do grande público como “Olhos na Boca” (1982) de Marco
Bellocchio e “A Liberdade é Azul”
(1993), primeiro filme da aclamada “Trilogia
das Cores” do diretor polonês Krzysztof Kieslowski.
“Amor” (2012)
de Michael Haneke representou a definitiva consagração de uma atriz. O script que acompanhava o vínculo afetivo
de um casal octagenário vinha para reverenciar e homenagear dois grandes nomes
do cinema francês: Riva e o companheiro de cena, o extraordinário Jean-Louis
Trintignant. Contando ainda com Isabelle Huppert no elenco, o filme causou raro
alvoroço e conquistou, com toda a justiça, a Palma de Ouro do Festival de
Cannes naquele ano. O papel de Anne rendeu à Emmanuelle Riva os prêmios mais
importantes do cinema, tais como o BAFTA e o César, além de uma indicação ao
Oscar, que também a transformou na atriz mais velha a ser indicada à estatueta.
Emmanuelle estava com 85 anos na ocasião e, sincera e justamente, merecia
demais ser a grande vencedora.
Talento puro e virtudes
incandescentes! Até o último suspiro de vida... Emmanuelle Riva era fantástica!
Que agora descanse em paz... (1927 - 2017)
Dez filmes com
Emmanuelle Riva que indico (em ordem de predileção):
01 - Amor (Amour, Áustria | França | Alemanha,
2012) - de Michael Haneke
02 - Hiroshima, meu Amor
(Hiroshima, mon Amour, França |
Japão, 1959) - de Alain Resnais
03 - Kapò: Uma História do Holocausto (Kapò, Itália | França | Iugoslávia,
1960) - de Gillo Pontecorvo
04 - Léon Morin - O Padre (Léon Morin, Prêtre, França | Itália, 1961) - de Jean-Pierre
Melville
05 - Olhos na Boca (Gli
Occhi, la Bocca, Itália | França, 1982) - de Marco Bellocchio
06 - Thérèse Desqueyroux (Thérèse Desqueyroux, França, 1962) - de Georges Franju
07 - A Liberdade é Azul (Trois Couleurs: Bleu, França | Polônia | Suíça, 1993) - de Krzysztof
Kieslowski
08 - Instituto de Beleza Vênus (Vénus Beauté (Institut), França, 1999) - de Tonie Marshall
09 - As Horas do Amor (Le Ore Dell’Amore, Itália, 1963) - de Luciano Salce
10 - O Verão do Skylab (Le Skylab, França, 2011) - de Julie Delpy
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Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant em "Amour" (2012) de Michael Haneke Les Films du Losange [fr] | X-Filme Creative Pool [de] | Wega Film [at] |
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