quarta-feira, 10 de maio de 2017

Memórias #28 | Nelson Xavier (1941 - 2017)

Nelson Xavier faleceu na madrugada desta quarta-feira, dia 10 de maio, em Uberlândia, Minas Gerais. Figura marcante do cinema, do teatro e das telenovelas, o ator tinha 75 anos e foi vítima do agravamento de uma doença pulmonar da qual vinha tratando já há algum tempo.

Paulistano, Nelson Xavier começou a sua carreira no teatro em meados dos anos 50 interpretando textos famosos da dramaturgia nacional como “Eles não usam Black-Tie” de Gianfrancesco Guarnieri (participando anos depois da sua versão cinematográfica); “Navalha na Carne” de Plínio Marcos; e “Toda Nudez Será Castigada” de Nelson Rodrigues. No mesmo período, o ator ingressava na televisão participando das famosas peças filmadas pela TV Tupi no saudosista “Grande Teatro Tupi”, sucesso da grade de programação da emissora por quase quinze anos.

A estreia no cinema foi em “Fronteiras do Inferno” (1959) de Walter Hugo Khouri e, de lá para cá, Nelson Xavier esteve presente em algumas das maiores pérolas da filmografia nacional, justamente em um dos períodos mais efervescentes e inventivos do cinema brasileiro. Dentre eles estão, por exemplo, “Cidade Ameaçada” (1960) de Roberto Farias; “Os Fuzis” (1964) de Ruy Guerra; “A Falecida” (1965) de Leon Hirszman; e “Desesperato” (1968) de Sergio Bernardes Filho.

Nelson Xavier (1941 - 2017) em "O Mágico e o Delegado" (1983) - Cinemateca Brasileira | Banco de Conteúdos Culturais

Nelson Xavier venceu duas vezes o Troféu Candango de Melhor Ator no Festival de Brasília; em 1978, pelo filme “A Queda”; e em 1983, por “O Mágico e o Delegado” (foto acima). Pelo primeiro, Nelson conquistou ainda um dos prêmios mais importantes de sua brilhante carreira: o Prêmio Especial do Júri e o Urso de Prata do Festival de Berlim em 1978, curiosamente pelo seu trabalho por trás das câmeras. Mesmo atuando no longa, ele venceu na categoria de segundo melhor filme pelo trabalho dividido na direção com Ruy Guerra em um drama denso que enfocava as precárias condições de vida dos operários da construção civil no Brasil. A trama que se desenvolve a partir da negligente morte de um trabalhador por falta de segurança.

O ator também ficou conhecido por interpretar importantes personalidades da história do país. Com a habitual sobriedade e uma entrega descomunal ao trabalho, Nelson Xavier praticamente reencarnava essas figuras frente às câmeras. Dentre os mais famosos estão o Capitão Virgulino Ferreira da Silva na minissérie “Lampião e Maria Bonita” (1982) da Rede Globo (papel que voltou a interpretar um ano depois na comédia “O Cangaceiro Trapalhão”); e mais recentemente o médium Chico Xavier nos longas “Chico Xavier” (2010) de Daniel Filho; e “As Mães de Chico Xavier” (2011) de Glauber Filho e Halder Gomes. Em entrevistas, Nelson chegou a dizer que, até aquele momento, nenhum dos seus personagens haviam, de fato, mudado a sua vida particular, mas “O Chico fez uma revolução!”.

Em um de seus últimos trabalhos para o cinema, “A Despedida” (2014) de Marcelo Galvão, Nelson Xavier deu vida à Almirante, um senhor de 92 anos de idade que decide se despedir de tudo que é mais importante na sua vida; afinal, ele já vinha recebendo claros sinais de que a mesma estava chegando ao fim. Com integridade, ele resolve aproveitar ao máximo os seus últimos momentos, o que inclui uma intensa noite de amor com a sua amante, 55 anos mais nova (vivida por Juliana Paes). Pelo papel, Nelson foi agraciado com o Kikito de Ouro de Melhor Ator no Festival de Gramado em 2014.

Tal como Almirante, Nelson Xavier viveu a vida honesta e intensamente, aproveitando cada momento dela para nos presentear com essas incríveis figuras que serão reconhecidas de maneira infinda na história do cinema e da televisão. Em nota publicada nesta manhã na página do Facebook do ator, sua filha Tereza Xavier disse que o pai “fez tudo que quis, do jeito que quis e de sua melhor maneira possível, sempre!”.

Que agora descanse em paz... (1941 - 2017)

Dez filmes com Nelson Xavier que indico (em ordem de predileção):

01 - A Rainha Diaba (A Rainha Diaba, Brasil, 1974) - de Antonio Carlos da Fontoura

02 - A Queda (A Queda, Brasil, 1978) - de Ruy Guerra e Nelson Xavier

03 - A Falecida (A Falecida, Brasil, 1965) - de Leon Hirszman

04 - Os Fuzis (Os Fuzis, Brasil | Argentina, 1964) - de Ruy Guerra

05 - Eles não usam Black-Tie (Eles não usam Black-Tie, Brasil, 1981) - de Leon Hirszman

06 - Dona Flor e seus Dois Maridos (Dona Flor e seus Dois Maridos, Brasil, 1976) - de Bruno Barreto

07 - Narradores de Javé (Narradores de Javé, Brasil | França, 2003) - de Eliane Caffé

08 - O Mágico e o Delegado (O Mágico e o Delegado, Brasil, 1983) - de Fernando Coni Campos

09 - O Rei do Rio (O Rei do Rio, Brasil, 1985) - de Fábio Barreto

10 - Soledade, a Bagaceira (Soledade, a Bagaceira, Brasil, 1976) - de Paulo Thiago

Nelson Xavier contracena com Stepan Nercessian em "A Rainha Diaba" (1974)
Filmes de Lírio [br] | Lanterna Mágica [it] | Ventania Filmes [br] | R.F. Farias [br]

Nenhum comentário:

Postar um comentário