Nelson Xavier faleceu na madrugada desta quarta-feira,
dia 10 de maio, em Uberlândia, Minas Gerais. Figura marcante do cinema, do
teatro e das telenovelas, o ator tinha 75 anos e foi vítima do agravamento de
uma doença pulmonar da qual vinha tratando já há algum tempo.
Paulistano, Nelson Xavier começou a sua carreira no
teatro em meados dos anos 50 interpretando textos famosos da dramaturgia
nacional como “Eles não usam Black-Tie”
de Gianfrancesco Guarnieri (participando anos depois da sua versão
cinematográfica); “Navalha na Carne”
de Plínio Marcos; e “Toda Nudez Será
Castigada” de Nelson Rodrigues. No mesmo período, o ator ingressava na
televisão participando das famosas peças filmadas pela TV Tupi no saudosista “Grande Teatro Tupi”, sucesso da grade
de programação da emissora por quase quinze anos.
A estreia no cinema foi em “Fronteiras do Inferno” (1959) de Walter Hugo Khouri e, de lá para
cá, Nelson Xavier esteve presente em algumas das maiores pérolas da filmografia
nacional, justamente em um dos períodos mais efervescentes e inventivos do
cinema brasileiro. Dentre eles estão, por exemplo, “Cidade Ameaçada” (1960) de Roberto Farias; “Os Fuzis” (1964) de Ruy Guerra; “A Falecida” (1965) de Leon Hirszman; e “Desesperato” (1968) de Sergio Bernardes Filho.
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Nelson Xavier (1941 - 2017) em "O Mágico e o Delegado" (1983) - Cinemateca Brasileira | Banco de Conteúdos Culturais |
Nelson Xavier venceu duas vezes o Troféu Candango de
Melhor Ator no Festival de Brasília; em 1978, pelo filme “A Queda”; e em 1983, por “O
Mágico e o Delegado” (foto acima). Pelo primeiro, Nelson conquistou ainda
um dos prêmios mais importantes de sua brilhante carreira: o Prêmio Especial do
Júri e o Urso de Prata do Festival de Berlim em 1978, curiosamente pelo seu
trabalho por trás das câmeras. Mesmo atuando no longa, ele venceu na categoria
de segundo melhor filme pelo trabalho dividido na direção com Ruy Guerra em um drama
denso que enfocava as precárias condições de vida dos operários da construção
civil no Brasil. A trama que se desenvolve a partir da negligente morte de um
trabalhador por falta de segurança.
O ator também ficou conhecido por interpretar importantes
personalidades da história do país. Com a habitual sobriedade e uma entrega descomunal
ao trabalho, Nelson Xavier praticamente reencarnava essas figuras frente às
câmeras. Dentre os mais famosos estão o Capitão Virgulino Ferreira da Silva na minissérie
“Lampião e Maria Bonita” (1982) da
Rede Globo (papel que voltou a interpretar um ano depois na comédia “O Cangaceiro Trapalhão”); e mais
recentemente o médium Chico Xavier nos longas “Chico Xavier” (2010) de Daniel Filho; e “As Mães de Chico Xavier” (2011) de Glauber Filho e Halder Gomes.
Em entrevistas, Nelson chegou a dizer que, até aquele momento, nenhum dos seus personagens
haviam, de fato, mudado a sua vida particular, mas “O Chico fez uma revolução!”.
Em um de seus últimos trabalhos para o cinema, “A Despedida” (2014) de Marcelo Galvão,
Nelson Xavier deu vida à Almirante, um senhor de 92 anos de idade que decide se
despedir de tudo que é mais importante na sua vida; afinal, ele já vinha
recebendo claros sinais de que a mesma estava chegando ao fim. Com integridade,
ele resolve aproveitar ao máximo os seus últimos momentos, o que inclui uma intensa
noite de amor com a sua amante, 55 anos mais nova (vivida por Juliana Paes).
Pelo papel, Nelson foi agraciado com o Kikito de Ouro de Melhor Ator no
Festival de Gramado em 2014.
Tal como Almirante, Nelson Xavier viveu a vida honesta e intensamente,
aproveitando cada momento dela para nos presentear com essas incríveis figuras
que serão reconhecidas de maneira infinda na história do cinema e da televisão.
Em nota publicada nesta manhã na página do Facebook do ator, sua filha Tereza Xavier
disse que o pai “fez tudo que quis, do
jeito que quis e de sua melhor maneira possível, sempre!”.
Que agora descanse em paz... (1941 - 2017)
Dez filmes com Nelson
Xavier que indico (em ordem de predileção):
01 - A Rainha Diaba (A Rainha Diaba, Brasil, 1974) - de
Antonio Carlos da Fontoura
02 - A Queda (A
Queda, Brasil, 1978) - de Ruy Guerra e Nelson Xavier
03 - A Falecida (A
Falecida, Brasil, 1965) - de Leon Hirszman
04 - Os Fuzis (Os
Fuzis, Brasil | Argentina, 1964) - de Ruy Guerra
05 - Eles não usam Black-Tie (Eles não usam Black-Tie, Brasil, 1981) - de Leon Hirszman
06 - Dona Flor e seus Dois Maridos (Dona Flor e seus Dois Maridos, Brasil, 1976) - de Bruno Barreto
07 - Narradores de Javé (Narradores de Javé, Brasil | França, 2003) - de Eliane Caffé
08 - O Mágico e o
Delegado (O Mágico e o Delegado, Brasil,
1983) - de Fernando Coni Campos
09 - O Rei do Rio (O
Rei do Rio, Brasil, 1985) - de Fábio Barreto
10 - Soledade, a Bagaceira (Soledade, a Bagaceira, Brasil, 1976) - de Paulo Thiago
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Nelson Xavier contracena com Stepan Nercessian em "A Rainha Diaba" (1974) Filmes de Lírio [br] | Lanterna Mágica [it] | Ventania Filmes [br] | R.F. Farias [br] |